O suave
batimento de seu coração me dominou. Naquele dia, naquela praça, naquele banco.
Havia uma
rotina. Aquele tipo de rotina que surge e você sente que é uma rotina. Aquela
rotina a qual não se vive tendo consciência.
Dias comumente
ensolarados da primavera. A grama cobria a visão, granulada com as dúzias de
cores dos frutos e árvores logo adiante. A água caindo da jarra do anjo de
mármore refletia luz diretamente aos meus olhos, o que me impedia de ver algo ademais
disto. O barulho era estranhamente tranquilizante. Mesmo as crianças sempre
gritando, ou até mesmo o bebê que parecia estar sempre chorando, não me
enervavam ou incomodavam.
Havia ali tons
de serenidade que me agradavam. Rostos sempre familiares, sorrisos já
conhecidos, uma segurança já garantida. E, além de todos os fatores, talvez fosse
a justa garantia de meu autocontrole. O equilíbrio não poderia ser quebrado,
não por mim.
E sempre
assentada logo na outra ponta do banco estava ela. Seu rosto sempre marcado por
uma estranha satisfação, sempre se alimentando quieta de algo totalmente
inconstante e aleatório conforme os dias de primavera passavam. Sempre ali, com
o mesmo cabelo, a mesma face, o mesmo tempo. Sem falar nada, sem emitir som.
Expressando uma única satisfação, vivendo. Vivendo em silêncio.
Meus esforços
diários pela manhã talvez fossem apenas distinguir a beleza natural que eu via no
parque da beleza que enxergava em seus olhos. As tonalidades iguais sempre me
confundiram. Mas mesmo assim, a beleza em geral é feita para ser admirada
enquanto em equilibrio, enquanto constante. Havia uma distância durante todos
aqueles dias, durante toda a primavera. Uma distância maior que as crianças,
maior que os bebês, maior que o tempo, o clima e a comida. Maior que a água e
as árvores; maior que tudo naquele parque. Menos do que o respeito e a
educação, que comumente garantiam o eterno silêncio.
E assim
permaneceu por toda a primavera. Cada dia mais eu podia ouvir o quão constante
era seu coração. A batida suave e cíclica, tão perfeitamente quanto sua
presença.
Até que um dia; uma boca aberta. Um som; mais baixo do que se pensava possível. Um singelo espirro.
Começara o verão.
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