sexta-feira, 22 de julho de 2016

Entendimento

Logo de manhã.
Um coelho morto. No meio da cidade.
Largado ao chão. Sem justificativa.
Foi surreal, foi apavorante.
Não era o bastante.
Ponto de ônibus vazio, vazio de ônibus.
Um homem logo a frente, ansioso. Mais ansioso que eu depois de ver o coelho.
Talvez ele o tivesse visto. Talvez ele tivesse o matado.
Ele tinha algo como eu. Ele entendia algo que eu também entendo. Essa é muitas vezes a melhor das sensações, mas não dessa vez. Ele entendia o que eu não queria entender.
Na verdade, percebi que não entendo tanto quanto ele.
Sou inerte, sabe? Estava desesperado, mas só pensava no som dos carros.
"Por que o som estava tão alto?" Eu me perguntava.
Quando era mais novo, eu costumava me ater a pensamentos. Eles surgiam e permaneciam por meses; eram tudo o que importava. O tempo passou e isso foi mudando. Os pensamentos crescem mais rápido e são abandonados logo em seguida.
Isso me apanhou esses dias. Aqueles olhos pequenos, sem vida. Agora, eles viram algo que eu não vi. Ele entende algo que eu não entendo. Isso me tranquiliza por ele, mas, sinceramente, não sei.
Será que existe algo assim: entender aquilo que eu entendo?

sábado, 13 de fevereiro de 2016

Desconexos

É na realidade algo bem comum:
As vezes tenho que mover uma parte do meu corpo para poder mover outra. É algo tão simples e que sempre se mostrou presente. Tenho que mover uma peça no xadrez para ser seguro mover outra; algumas vezes até ser possível move-la. Com o tempo, as jogadas tornam-se tão fluidas que os movimentos de preparação tornam-se parte do movimento final. Nesse aspecto, o xadrez e o combate são os mesmos. Cada peça movida leva consigo o peso de todo tabuleiro, assim como o corpo leva o peso de todo o universo.
Quando o movimento é desconexo, ele é incompleto; imperfeito.
É como quando você está parado e se sente cair levemente para o lado; as vezes para trás, as vezes para frente. Como se a terra continuasse girando normalmente, mas você esta infinitesimalmente mais lento que ela - e por isso começa a cair.
É como ter sua inércia quebrada. Ou o mundo girando com você ainda parado.
São dois problemas simples, analisados de uma maneira simples. O pensamento é simples. Porém, eles me parecem desconexos, incompletos - imperfeitos.
Não necessitam, contudo, serem complexos.
Tenho percebido que ao fim, as coisas parecem feitas para serem simples:
Para acordar cedo tenho de querer assistir o nascer do Sol, tanto quanto preciso dar um passo depois do outro.