sexta-feira, 22 de julho de 2016

Entendimento

Logo de manhã.
Um coelho morto. No meio da cidade.
Largado ao chão. Sem justificativa.
Foi surreal, foi apavorante.
Não era o bastante.
Ponto de ônibus vazio, vazio de ônibus.
Um homem logo a frente, ansioso. Mais ansioso que eu depois de ver o coelho.
Talvez ele o tivesse visto. Talvez ele tivesse o matado.
Ele tinha algo como eu. Ele entendia algo que eu também entendo. Essa é muitas vezes a melhor das sensações, mas não dessa vez. Ele entendia o que eu não queria entender.
Na verdade, percebi que não entendo tanto quanto ele.
Sou inerte, sabe? Estava desesperado, mas só pensava no som dos carros.
"Por que o som estava tão alto?" Eu me perguntava.
Quando era mais novo, eu costumava me ater a pensamentos. Eles surgiam e permaneciam por meses; eram tudo o que importava. O tempo passou e isso foi mudando. Os pensamentos crescem mais rápido e são abandonados logo em seguida.
Isso me apanhou esses dias. Aqueles olhos pequenos, sem vida. Agora, eles viram algo que eu não vi. Ele entende algo que eu não entendo. Isso me tranquiliza por ele, mas, sinceramente, não sei.
Será que existe algo assim: entender aquilo que eu entendo?